As crianças querem amor e carinho

Afirmação é da psicóloga jurídica Vanessa Cleto, sobre filhos criados por casais homoafetivos

Um dos temas mais polêmicos da atualidade é o fato de duas pessoas do mesmo sexo sentirem atração física. Para os casais que já criaram a autonomia de viver sua orientação sexual sem medo, e que sempre tiveram o desejo de ser pais (ou mães), a alternativa de adotar uma criança sempre vem à tona.

De acordo com uma pesquisa do demógrafo Reinaldo Gregori, com base no Censo de 2010, 20% dos casais brasileiros têm filhos no Brasil, e nos Estados Unidos essa porcentagem reduz para 16%.  Em 15 de março de 2016 foi aprovada uma lei que permitiu que na certidão da criança adotada viesse escrito o nome dos dois pais.

Uma pesquisa do IBGE, realizada em 2010, revelou que as mulheres compõem a maioria das famílias homoafetivas no Brasil, somando 60 mil, correspondendo a 53,8% dos lares homoafetivos. Portanto, segundo dados divulgados pelo IBOPE em 2011, os brasileiros que são contra à adoção feita por casais homoafetivos representam 55% da população.

Valdir Zanelli e Marcelo Nazareth são um exemplo de caso incomum de adoção por casais homoafetivos. O casal adotou a pequena Vitória, uma menina de dois anos, negra e que possuí um histórico de mãe que sofria abuso sexual. Atualmente o casal mora em Itatiba, interior de São Paulo, porém anteriormente residiam em Amparo e por isso o caso teve que ser transferido de uma cidade para outra. “Isso demorou um ano para acontecer, foi o período mais longo de todo o processo jurídico. Apesar disso, o nosso processo foi bem mais rápido do que de outras pessoas, já estávamos bem informados sobre o assunto e aconteceu naturalmente”, conta Marcelo.

    Valdir Zanelli e Marcelo Nazareth, pais da pequena Vitória

O casal revelou que o período de adaptação com a menina foi bem difícil. “Foram 45 dias de adaptação, e 30 dias ela chorou, não pegávamos ela no colo. Até que um dia ela estava na sala do berçário, e eu disse para ela que não precisava vir no meu colo se não quisesse. A partir disso ela veio no meu colo e não desgrudou mais” conta Marcelo. “Hoje em dia ela só dorme com a presença de nós dois, as vezes com os braços abertos, ou com o pé em um e a cabeça em outro. Mas ela precisa sentir a nossa presença para dormir bem” completou Valdir.

Segundo Marcelo, a Vitória teve um tratamento com uma psicóloga do Lar da Criança e também eles optaram por usar um tratamento homeopático para retirar traumas de memória. “A Vitória tinha terror noturno nos primeiros seis meses. Ela chutava o ar, batia e gritava e nós investigamos a história dela. Acabamos descobrindo que a mãe dela se prostituía, usava drogas e foi vítima de violência sexual, por isso a Vitória se movimentava de forma brusca durante o sono e tinha medo da figura masculina. Ela não chegava perto da minha barba, então eu a tirei e ela começou a se aproximar de mim” conta Marcelo. “Por isso, nós intervimos com a ação homeopática, e toda noite, enquanto ela dormia, nós repetíamos que ela era querida, e que nós cuidaríamos muito bem dela. Com o tempo, a Vitória foi deixando de ter esses traumas” conta Valdir.

Créditos: Marcelo Nazareth

Vitória, de apenas dois anos, filha adotiva de Valdir Zanelli e Marcelo Nazareth

Ricardo Ribeiro Amaro e Alexandre Machado de Morais estão juntos há 27 anos. O casal conta que decidiu adotar há 2 anos pois queriam ter uma situação financeira estável, e ter condições para criar um filho. “Agora nós estamos no finalzinho do processo, daqui à 2 meses já estaremos no Cadastro Nacional de Adoção.  Já estamos há um ano nesse processo, e a parte mais difícil é a ansiedade mesmo. Todas as pessoas envolvidas nesse processo foram muito receptivas” conta Ricardo.  Nas especificações do tipo da criança, o casal optou por abrir o leque de opções e colocar a idade de 3 a 14 anos, do sexo masculino, de qualquer etnia.

Acompanhamento de crianças que serão adotadas por casais homoafetivos

Segundo a psicóloga do Lar da Criança de Itatiba, Cláudia Archanjo, não existe diferença no processo de adoção por um casal homossexual e de um casal heterossexual. “Não existe qualquer relação entre a definição sexual de alguém e a dos seus pais. As crianças adotadas por casais homoafetivos não apresentaram por isso, mais dificuldades, tudo vai depender dos vínculos afetivos e da forma como os problemas são encaminhados” disse Cláudia.  A psicóloga ainda afirma que não dá para prever e controlar o preconceito que essas crianças poderão sofrer no futuro, é um fato que precisa ser enfrentado por eles mesmos, junto com os responsáveis. No entanto, isso não se restringe a apenas a orientação sexual dos pais.

Vanessa Cleto, psicóloga Jurídica do Fórum Armando Rodrigues em Itatiba – SP, diz que as crianças possuem uma facilidade maior para aceitarem dois pais com estrutura familiar, pois são crianças. “Uma criança maior de idade pode ter mais dificuldade de se adaptar com essa realidade, porém essa faixa etária é muito mais flexível do que os adultos” diz Vanessa.

De acordo com a assistente social do fórum, Leda Giaretta, quem faz todo o trabalho psicológico com as crianças e os casais homoafetivos é a instituição de onde vieram. As crianças normalmente estão à procura de um lar, de amor e afeto, então é mais fácil elas aceitarem que tem dois pais” diz Leda.

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